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A força do futebol do interior paraense

December 10, 2013

Wando marcou o gol que salvou o Águia do rebaixamento à Série D em 2012, diante do Santa Cruz

Há 7 anos atrás, boa parte do Brasil conhecia apenas três times do futebol paraense: Remo, campeão da Série C em 2005; Paysandu, que conquistou a Série B em 1991 e 2001, ganhou a Copa dos Campeões de 2002 e fez boa campanha na Libertadores de 2003; e Tuna, campeã da Série B de 1985 e da C em 1992. Até então, apenas equipes de Belém haviam realizado façanhas em competições nacionais, porém um time do interior do estado ganhou força e foi apresentado ao país em 2008, na Série C: o Águia de Marabá Futebol Clube, que atualmente é apenas um dos dois clubes do Pará (o outro é o Paysandu) garantido em uma divisão do futebol nacional.

O Águia começou a escrever a sua história no futebol brasileiro em 2008, ano em que foi vice-campeão do Campeonato Paraense. O Azulão surpreendeu ao vencer o Paysandu por 2-1, de virada, em pleno Mangueirão na fase semifinal do 1º turno. Na decisão, um empate com o Ananindeua por 2-2 no mesmo estádio foi suficiente para garantir a conquista da Taça Cidade de Belém. No 2º turno (Taça Estado do Pará), o Azulão não conseguiu nem chegar às semifinais e o Remo foi campeão. Nas finais do campeonato, empate em 1-1 na ida e vitória do Remo por 2-1 na volta, sendo que os dois jogos foram no Mangueirão porque o Zinho Oliveira, estádio onde o Águia manda seus jogos em Marabá, não tinha a capacidade mínima exigida (5 mil torcedores). A equipe do sudeste paraense não foi campeã estadual, mas garantiu vaga na Série C, que era a última divisão do Brasil naquele ano. Com isso, já se sabia que o ano seria diferente para o Águia, pois haveria campeonato para disputar no 2º semestre.

Em 2008, três times representaram o Pará na Série C, então disputada por 64 clubes (63 naquele ano, pois Rondônia não teve representante): Remo, Águia e Paysandu. Seriam dois, mas o Remo foi um dos rebaixados da Série B de 2007, o que lhe garantia vaga na competição mesmo que não fosse bem no Estadual. O Águia ficou no Grupo 3, com Paysandu, Bacabal e Palmas. A equipe começou bem, ganhando do Palmas por 4-2 em Marabá. Em seguida, derrota para o Bacabal em casa por 3-2. Depois, nova derrota, para o Paysandu na Curuzu por 3-1. Após este jogo, o técnico Fran Costa foi demitido e João Galvão, um dos mandatários do Azulão, assumiu o comando para contenção de despesas. Imaginava-se que o Águia, 3º colocado naquele momento, apenas cumpriria tabela nas partidas restantes, visto que faria dois jogos fora e precisaria de pelo menos duas vitórias nos três finais. Porém, o Águia surpreendeu e conquistou a classificação para a fase seguinte de forma fantástica.

Com Galvão como treinador, o Águia foi ao interior do Maranhão e ganhou do Bacabal por 2-1. Três dias depois, empate em 1-1 com o Paysandu em casa obrigava o Azulão a vencer o Palmas na capital do Tocantins para se classificar sem depender do resultado de Bacabal x Paysandu. O time de Marabá não titubeou e goleou os tocantinenses por 3-0, garantindo a liderança da chave. No outro jogo, 1-1, resultado que deu a segunda vaga ao Paysandu. Na 2ª fase, Águia e Paysandu se juntaram ao piauiense Picos e ao maranhaense Sampaio Corrêa. A vida dos paraenses foi tranquila. O Paysandu se classificou uma rodada antes do fim e o Águia jogava por um mero empate em casa contra o Sampaio Corrêa. No final das contas, os marabaenses foram líderes e os bicolores ficaram em segundo. Isto garantiu, além da classificação à 3ª fase, a permanência na Série C caso não conquistassem acesso, pois a Série D foi criada em 2009 (os 20 melhores da C de 2008, exceto os 4 que subissem para a B, disputariam a de 2009, a primeira edição da 3ª divisão com 20 clubes).

Na 3ª fase, Águia e Paysandu tiveram Rio Branco e Luverdense como adversários. Poderia haver três paraenses, mas o Remo vacilou na reta final da 2ª fase e o Luverdense, hoje na Série B, aproveitou. O Águia começou vencendo Luverdense no Mato Grosso e Paysandu em casa (ambos por 3-2), mas depois empatou com o Rio Branco em Marabá (0-0) e foi goleado no Acre (4-0). Após 4 rodadas, estava desenhada uma disputa entre Azulão e Papão pelo 2º lugar. O Rio Branco ganhou do Luverdense em Lucas do Rio Verde por 1-0 e avançou (10 pontos). O Águia veio a Belém precisando de empate com o Paysandu para não se complicar. E o obteve, com gol aos 40’ do 2º tempo. O 1-1 conquistado em Belém fez com que Águia e Paysandu fossem para a última rodada com o mesmo número de pontos (8). O Águia quase perdeu a classificação em casa, ao empatar em 1-1 com o Luverdense, novamente com gol minutos antes do final. Para sorte do Azulão, o Paysandu perdeu para o Rio Branco (2-1) na cidade do mesmo nome. Acreanos e marabaenses foram ao octogonal final.

No começo da Série C, imaginava-se que Remo e Paysandu seriam os paraenses com melhor campanha, mas o Águia conseguiu algo histórico. A equipe ficou em 5º lugar e não conseguiu o acesso à Série B por um gol (empate com o Duque de Caxias em saldo de gols e a equipe fluminense levou a melhor no número de gols-pró). Na fase final da Terceirona, o Azulão mandou os seus jogos no Mangueirão, pois o Zinho Oliveira não tinha a capacidade mínima exigida (10 mil torcedores). A média de público foi de 1,2 mil a 1,5 mil torcedores. Em Marabá, acredita-se que pelo menos 2 mil pessoas acompanhariam os jogos. Apesar de não ter subido, o Águia teve um ano fantástico, diferente em relação ao que a maioria do elenco estava acostumada. Jogadores como Aleilson (que disputou a última Série B pelo Paysandu) e Felipe Mamão, revelado e pouco aproveitado pelo Remo, estiveram naquele grupo. Uma impressão muito boa ficou e 2009 prometia ser melhor.

Em 2009, a boa campanha do ano anterior apresentou resquícios. Marabá, volante que jogou em Internacional, Goiás e Cruzeiro, retornou à cidade natal para defender o Águia. O clube começava a receber jogadores importantes. O Zinho Oliveira entrou em reforma e o Azulão passou a mandar seus jogos no Rosenão, em Parauapebas. Lá, a equipe continuou fazendo história: venceu o América Mineiro por 2-1 na estreia na Copa do Brasil e se classificou ganhando no Mineirão por 1-0. Na sequência, vitória sobre o Fluminense por 2-1 no Mangueirão e derrota no Maracanã por 3-0. A classificação não veio, mas o Tricolor Carioca teve trabalho, tanto que o gol que abriu a goleada, marcado pelo atacante Maicon, saiu apenas no 2º tempo. No Parazão, uma campanha pouco destacável. O Águia não se classificou às semifinais do turno e foi eliminado nas semifinais do returno, com derrota em Santarém para o São Raimundo por 3-2. Isto não abalou a direção do clube, pois o foco era mais uma vez se destacar com uma grande campanha na Série C.

Na primeira Série C com 20 clubes (4 grupos com 5 equipes), o Águia esteve no Grupo A, com Paysandu, Luverdense, Rio Branco e Sampaio Corrêa. O time começou muito bem, com três vitórias logo na largada, mas depois caiu de rendimento e não se classificou. Naquele ano, apenas o penúltimo jogo, contra o Sampaio Corrêa (2-2), aconteceu em Marabá. Em 2010, o Águia conquistou o 2º turno do Parazão (o que garantiu vaga na Copa do Brasil de 2011), mas foi superado pelo Paysandu nas finais. Na Série C daquele ano, o Azulão teve Paysandu, Fortaleza, São Raimundo de Santarém e Rio Branco como adversários em sua chave, mas fez bonito novamente e se classificou com empate em Marabá, na última rodada, contra o Fortaleza (1-1). A equipe teve novamente a chance de subir à Série B, porém não foi párea para o ABC (campeão daquela edição) nas quartas-de-final: derrotas por 1-0 no Zinho Oliveira e 3-1 no Frasqueirão.

Nos últimos 3 anos (2011, 2012 e 2013), as campanhas do Azulão não foram destacáveis. Na Série C, a equipe disputou apenas a 1ª fase. No Parazão, o Águia caiu em 2013, disputou a 1ª fase do Parazão de 2014 e não conseguiu vaga para a principal; portanto, o time só voltará a campo em abril. De 2008 para cá, houve mais confrontos oficiais entre Águia e Paysandu (31) do que entre Remo e Paysandu (21); logo, o confronto entre marabaenses e bicolores é considerado clássico por muita gente (inclusive por quem escreve este post). Outro dado que chama a atenção é o aproveitamento do Águia em Marabá na Série C: em 36 jogos, 20 vitórias, 14 empates e apenas 2 derrotas, para Bacabal (2008, 3-2) e ABC (2010, 1-0). Os números caem se considerarmos os jogos que o Águia mandou fora do Zinho Oliveira (Mangueirão, Rosenão, etc), mas este aproveitamento foi fundamental para livrar a equipe do rebaixamento à Série D em 2012.

Para fechar, vale destacar o critério adotado para contratações, outro fator fundamental para o sucesso do Águia nestes anos de Série C. Vários jogadores que não dão certo em Remo e Paysandu ou que vão bem no Parazão são contratados (o zagueiro Bernardo, o lateral-direito Sinésio e o meia Flamel são exemplos). Alguns atletas trazidos de fora do estado não são bons, mas se encaixam no perfil do clube. Júnior Timbó foi muito bem no Azulão, tanto que o ABC, que fugiu do rebaixamento na Série B, o contratou. A estrutura do clube não é a ideal para uma Série B caso ele venha a conquistar acesso, contudo é louvável o trabalho que a diretoria aguiana faz desde 2008. Em 2014, o Águia disputará pelo sétimo ano seguido a terceira divisão nacional. Provavelmente, as dificuldades serão maiores, visto que a equipe não disputará o Campeonato Paraense. Fica a expectativa pela próxima edição da Série C.

*Post publicado às 14h02 (horário de Belém) do dia 10 de dezembro de 2013.

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